O Jardim da Morte
A Morte estava em seu imenso jardim a podar algumas roseiras, a aparar alguns arbustos, a arrancar alguns matinhos, quando, bem ao auto da imensa estufa de jardinagem, veio o som do alto-falante a chamar-lhe para atender a uma ocorrência. É que ela sempre estava de plantão; vivia de plantão.
Como em todas às vezes o chamado era urgente. Ela já sabia que aquilo ocorreria, estava de sobre aviso, e sua experiência profissional lhe permitia prever com certa antecedência o momento em que um cliente precisaria de seus serviços.
Partiu veloz, passou por toda parentela que se encontrava a porta do quarto hospitalar do pobre ancião agonizante. Colocou-se lado a lado com os que se encontravam junto do velho a beira do leito. Alguns a sentiram romper ao passar. Sentiram uma espécie de calafrio que percorrera num segundo dos pés a cabeça, ou vice-versa; outros dizem ter sentido algo estranho, como um mau presságio, uma coisa ruim ou algo assim.
O fato é que ela veio. Se demorou a chegar, se chegou rápido demais, nada disso tinha relevância. Na exata hora em que era para ela estar ali, ali ela estava. Nem uma fração mínima de segundo fora do que estava previsto no grande livro da vida. Ao chegar deparou-se com o ancião a lutar intensamente para deixar as dependências da carne. Era uma gemência sem pausa, uma respiração dificílima, agônica. Fadigado de tanto tentar desgarrar-se da aparência que conhecia por ser seu ser, sentiu enorme alívio ao ver a conceituada e infalível profissional do ramo que havia chegado.
Ao aproximar-se do homem ela lhe tocou nas feridas interiores com sua vasta experiência; coisa acumulada desde o primeiro protozoário que partiu, até o presente momento em que se encontrava ali naquele quarto de hospital. Arrancou o pobre homem de sua carcaça como quem retira uma carta de um envelope. Pediu-lhe que aguardasse num canto do quarto que as outras providências já estavam encaminhadas e partiu.
Retornou para o seu jardim. Mas é claro que o sabor da manhã já havia mudado devido à interrupção do desfrute daquele dia ensolarado. Dizia ela, em sua intimidade, que as manhãs são como o café, se não é tomada toda de uma vez do início ao fim, elas ficam frias e perdem o aroma e o sabor. Pensando dessa maneira, é claro que não era uma senhora muito bem humorada com seu ofício, de bem com a Vida por assim dizer, ela continuou suas podas.
Obs.: Texto escrito por jefh Cardoso, um amigo da blogosfera. Originalmente escrito e postado em seu blog, em janeiro do ano passado, mas acabou sofrendo algumas alterações, feitas por ele mesmo e repostado em dia 13 de fevereiro. Visitem seu blog e comentem...
A Morte estava em seu imenso jardim a podar algumas roseiras, a aparar alguns arbustos, a arrancar alguns matinhos, quando, bem ao auto da imensa estufa de jardinagem, veio o som do alto-falante a chamar-lhe para atender a uma ocorrência. É que ela sempre estava de plantão; vivia de plantão.
Como em todas às vezes o chamado era urgente. Ela já sabia que aquilo ocorreria, estava de sobre aviso, e sua experiência profissional lhe permitia prever com certa antecedência o momento em que um cliente precisaria de seus serviços.
Partiu veloz, passou por toda parentela que se encontrava a porta do quarto hospitalar do pobre ancião agonizante. Colocou-se lado a lado com os que se encontravam junto do velho a beira do leito. Alguns a sentiram romper ao passar. Sentiram uma espécie de calafrio que percorrera num segundo dos pés a cabeça, ou vice-versa; outros dizem ter sentido algo estranho, como um mau presságio, uma coisa ruim ou algo assim.
O fato é que ela veio. Se demorou a chegar, se chegou rápido demais, nada disso tinha relevância. Na exata hora em que era para ela estar ali, ali ela estava. Nem uma fração mínima de segundo fora do que estava previsto no grande livro da vida. Ao chegar deparou-se com o ancião a lutar intensamente para deixar as dependências da carne. Era uma gemência sem pausa, uma respiração dificílima, agônica. Fadigado de tanto tentar desgarrar-se da aparência que conhecia por ser seu ser, sentiu enorme alívio ao ver a conceituada e infalível profissional do ramo que havia chegado.
Ao aproximar-se do homem ela lhe tocou nas feridas interiores com sua vasta experiência; coisa acumulada desde o primeiro protozoário que partiu, até o presente momento em que se encontrava ali naquele quarto de hospital. Arrancou o pobre homem de sua carcaça como quem retira uma carta de um envelope. Pediu-lhe que aguardasse num canto do quarto que as outras providências já estavam encaminhadas e partiu.
Retornou para o seu jardim. Mas é claro que o sabor da manhã já havia mudado devido à interrupção do desfrute daquele dia ensolarado. Dizia ela, em sua intimidade, que as manhãs são como o café, se não é tomada toda de uma vez do início ao fim, elas ficam frias e perdem o aroma e o sabor. Pensando dessa maneira, é claro que não era uma senhora muito bem humorada com seu ofício, de bem com a Vida por assim dizer, ela continuou suas podas.
Obs.: Texto escrito por jefh Cardoso, um amigo da blogosfera. Originalmente escrito e postado em seu blog, em janeiro do ano passado, mas acabou sofrendo algumas alterações, feitas por ele mesmo e repostado em dia 13 de fevereiro. Visitem seu blog e comentem...
12 comentários:
Que lindo..ele conseguiu falar sobre uma coisa tão mórbida de uma forma totalmente poética e sublime.
Ei...estava com saudade de você!!! Por onde andou,hein??
Suma não...Beijos!!
Cara, estou arrepiado aqui no meu rudimentar escritório. Não me lembro de ter recebido tamanha homenagem em outra ocasião dessa jornada de escrita livre. Anotarei esta data como um marco na história de meu blog. Não me farei agora nem um bocadinho
arrogado, nem outrora.
Kim, meu mais entusiasmado e sincero obrigado; valeu blogosférico amigo!
De verás ele conseguiu trazer um assunto delicado de forma poética e leve...
Muito bom *-*
Bejãooo ;*
aa eu adorei o texto ~~
Muito lindo mesmo...
Seguindo
P.S: gostei pakas do seu blog :)
Ola eu adorei o texto, estou sentido a sua falta la no meu blogger. Beijoo ate mais.
Seu blog continua cheio de conteúdo e simplesmente espetacular.
Se não lembra de mim, visita meu blog. ^^
Estou de volta.
Vlw
Ahua, eu gostei! fala da morte de um jeito tao bonito, faz ela ser menos assustadora.. huauhauhhuauh
adoorei! beijokax.
Excelente texto...
Para refletir!
Bjos e tenha lindo domingo
Olá Kim, tudo bem? Belíssimo texto, muitíssimo bem escrito. Fez bem em postá-lo aqui, vou correr lá para conhecer o autor.
Um abraço!
Uma maneira suave de falar sobre a morte...
...suave e leve...como se nem fosse possível senti-la.
Lindo mesmo...
Saudades de ti guri doce! Por onde andas?
Beijos cheios de saudades.
Já achava que a Morte era injustiçada antes, depois de ler, mais ainda. Penso que em certo estágio, é como nascer... de trás pra frente. E tudo acontece na sua hora certa mesmo... (pelo menos creio nisso com todas as minhas forças.)
Adorei o textoo.. depois vou lá conhecer o blog dele... ^^
Beeeijo... e não some não! ;)
Tem selo pra ti no meu blog
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