Acredita em Mim?

Durante algum tempo fiquei pensativo, refletindo sobre quem eu sou e isso, pela primeira vez, não me deixou muito feliz... Sempre fui do tipo que preferia me entreter comigo mesmo que com os outros e isso sempre me fez bem... me dava tempo pra avaliar respostas, frases e pensamentos, isso sem falar que era assim que eu organizava melhor os meus conteúdos guardados...

No entanto, de uns tempos pra cá vim reavaliando no que isso havia se tornado... A dificuldade em conversar sobre meus sentimentos e sobre minhas idéias, agora era notável... Não consigo mais ser tão comunicativo com as outras pessoas e demonstrar sentimentos já era complicado de ser feito. Mas por quê? Por que isso aconteceu?

Lidar com as outras pessoas agora havia se tornado algo tão mecânico e superficial... Não consigo mais contar histórias, recitar poesias, falar citações ou mesmo dizer um Eu estou gostando de você... Notei que a imparcialidade para com as outras pessoas estava criando um abismo chato e reverter isso não seria tão fácil quanto eu imaginava.

Agora, a única coisa que posso dizer é Acredite em mim quando digo que não sou assim, mas como dizer que não sou? Como dizer que sou diferente, quando tudo o que fiz até agora foi demonstrar o que de pior havia em mim? Não sei ao certo o que fazer, mas sei que quero fazer, pois perder o melhor de mim é algo que eu não estou muito disposto a permitir, principalmente porque é isto o que quero oferecer e não as minhas angustias bobas ou meus depoimentos inadequados...

Não estou dizendo que vou mudar, apenas que irei acabar com este abismo que me distancia do melhor que posso ter... Quero ouvir mais, quero sorrir mais, quero ajudar mais, quero voltar a transparecer mais o que realmente sou e o que realmente sinto... Sei que isto não será muito fácil, mas se você tiver paciência e me aceitar, posso ti mostrar que ainda tenho algo de bom e que vale a pena ser salvo...

Sou um Garoto de Recados

Você conhece o tipo. Sou daquele que nunca diz diretamente o que sinto por você. Os meus olhos transmitem desejo, os meus braços a seguram com firmeza, mas verbo, que é bom, não rola. Será que eu nunca vou me abrir, nunca vou falar? Cara, eu deixo um monte de pistas, você que não se dá conta.

Tem gente que, por não ter nascido com o dom da oratória e muito menos com vocação pra poeta, pede palavras emprestadas para dizer o que sente. Emprestadas de onde? Das músicas que gosto. Dos livros que dou de presente. Dos filmes que vivo comentando. Está tudo ali, você que não presta atenção.

O que eu sinto está na página 27 daquele livro que eu fiz questão que você lesse. E adivinhe por que fiz questão de levar você para ver aquele filme francês que eu já vi sozinho duas vezes. Adivinhe. Eu estou inteiro naquela cena do casal dentro do metrô. É tudo o que eu gostaria de falar pra você, mas digo assim, através de terceiros.

O meu MSN e meu Orkut vêm cheios de citações, eu vivo cantarolando sempre a mesma música, até a camiseta que eu visto tem uma frase em inglês que você tem preguiça de traduzir. Traduza. Eu estou falando com você.

Sou plagiador confesso. Preste atenção na letra, no refrão, na música que eu coloco pra tocar, estou mandando um recado. Os cineastas, os poetas, os malucos, todos os homens apaixonados do planeta falam por mim, e você não escuta.

Eu quero que você leia os olhos, as mãos, os lábios. Eu não vou optar pelo chavão, pela trivialidade daquele "eu te amo" que você talvez aguarde com impaciência. O meu idioma é outro. Eu silencio para que falem por mim. Atenção para aquele momento em que eu aumentei o som, interesse-se pelo trecho que eu sempre releio em voz alta, tente captar os versos que eu sei de cor, mas que não são de autoria minha - mas ao mesmo tempo são.

Antene-se nos recados, em todas as palavras em que você tropeça e que foram largadas por mim bem no seu caminho, bem por onde você passa. Espero que entenda. Há mil maneiras de se fazer uma declaração. Eu faço por recados...

Obs.: Adaptado da crônica “Garotos de recado”, de Martha Medeiros

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